Como uma startup brasileira está usando blockchain para revolucionar o investimento social (e a cerveja!)
19 de novembro de 2021Taynaah Reis cresceu no Brasil vendo seu pai usar a economia para ajudar a tirar pessoas da pobreza. Nos anos 90, ajudou a construir um programa que emprestava pequenas quantias a agricultores familiares que produziam queijo, leite e artesanato – eles puderam usar esses recursos para investir em seus negócios e se tornarem empreendedores. O programa ainda existe, tendo emprestado US$ 30 bilhões nas suas primeiras duas décadas.
“Na minha infância, meu pai costumava me levar às comunidades indígenas para conhecer agricultores e provar seus produtos”, diz Reis, hoje com 33 anos. “Vi todos os desafios enfrentados por empresas de propriedade de mulheres”.
Reis sabia que queria reproduzir o trabalho de seu pai – mas está fazendo isso com um toque muito moderno. Em 2015, com os cofundadores Brad Chun e Isabella Yu, ela abriu a Moeda Seeds Bank. A organização com fins lucrativos oferece serviços bancários, pagamentos e micro empréstimos por meio de um blockchain específico para levar ao próximo nível o que veio a ser conhecido como investimento social. A Moeda concede empréstimos a empresárias rurais, aconselhamento empresarial e, em parceria com a Mastercard, cartões de débito para que transformem a indústria caseira em empreendimentos comerciais.
Para investidores que procuram causar impacto, a criptomoeda da Moeda permite que qualquer pessoa, em qualquer lugar, invista tão pouco quanto US$ 1,50 (cerca de R$ 8) nesses empreendimentos, enquanto o blockchain facilita o rastreamento de como o investimento é distribuído para aqueles que necessitam.
Este tipo de investimento de impacto não é novo. O microcrédito em sua forma moderna teve início no início dos anos 1980, quando Muhammad Yunus fundou o Grameen Bank para conceder pequenos empréstimos com melhores condições para os pobres das áreas rurais de Bangladesh. O sucesso do Grameen – que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006 – inspirou cópias tanto comerciais como sem fins lucrativos em todo o mundo. Mas um problema constante para os investidores é a falta de transparência. É fácil olhar para uma demonstração de resultados para examinar se um fundo com foco social rendeu dinheiro – mas é mais difícil confirmar se os mutuários atendem aos critérios prometidos pelo fundo e se ele está realmente cumprindo suas promessas sociais.
A Moeda ataca esse problema por meio do blockchain, que cria um livro-razão gigante compartilhado no qual todas as transações são registradas e armazenadas com segurança. É um banco de dados transparente e permanente, extremamente difícil de hackear. Usando blockchain, a empresa emitiu sua própria criptomoeda flutuante e uma moeda estável atrelada à moeda brasileira. Os investidores compram a primeira moeda em uma bolsa e escolhem um projeto para financiar. A Moeda troca a criptomoeda pela moeda estável para que o valor do investimento e do empréstimo não flutuem. Como as duas moedas operam em um blockchain, os investidores e tomadores de empréstimo podem ver facilmente onde suas moedas estiveram e como são distribuídas.
A empresa arrecadou US$ 20 milhões por meio de uma oferta inicial de moedas, em 2017, e se associou ao seu primeiro mutuário em 2018, uma cooperativa rural de 170 mulheres que colhem nozes de baru, uma castanha selvagem que elas vendiam – sem muito sucesso – principalmente como comida.
A Moeda ajudou os líderes da cooperativa a traçar um plano de negócios e encontrar uma alternativa para o uso das castanhas: base para cerveja. Elas conseguiram montar uma cervejaria em pequena escala e seu primeiro lote de cerveja baru escura, parecida com a Guinness, esgotou em poucos meses, dando um retorno de talvez cinco vezes o valor das matérias-primas. A cooperativa conseguiu saldar o empréstimo na hora, gerando lucro para a Moeda e seus investidores e, ao mesmo tempo, lançando um negócio.
“Oferecer às mulheres acesso ao capital é mais do que apenas criar uma conta para elas”, diz Reis. “Está realmente trazendo dignidade. Elas se sentem fortes. Elas se sentem capazes de realizar algo sozinhas”.
Até o momento, a Moeda canalizou cerca de US$ 1 milhão em 28 projetos, usando o capital levantado por meio da oferta de moedas. A empresa privada está em processo de levantar recursos adicionais, desta vez de fontes mais tradicionais, como capital de risco, para expandir para outras regiões e financiar até 2.000 projetos, disse Reis. Em 2021, a Moeda também se juntou à iniciativa de engajamento Start Path da Mastercard, um programa dentro do portfólio Mastercard Developers de fintechs da empresa. Por meio do programa, Reis já se conectou a potenciais parceiros, grandes e pequenos.
“Não precisa haver uma compensação”, diz Reis. “Você pode fazer o bem e se dar bem”.