Essa intérprete de linguagem de sinais leva a emoção dos esports para os fãs surdos
20 de março de 2023Jessyka Maia de Souza traduz eventos de esports ao vivo para League of Legends no Brasil como a primeira intérprete de língua de sinais da Riot Games
À medida que as tensões aumentam antes de uma enorme competição ao vivo de esports de League of Legends, os “casters” – o termo usado para narradores de esports – definem o cenário com seus comentários rápidos sobre as equipes e táticas.
Mas os jogadores surdos ou com deficiência auditiva são excluídos do popular bate-papo pré-jogo, fazendo com que seja difícil acompanhar as partidas cheias de adrenalina e obter informações sobre as estratégias que as equipes usam para lutar até a vitória, bem como a análise pós-jogo de torneios que não levam a acessibilidade em consideração.
Agora, para os fãs surdos no Brasil, isso está mudando graças à gamer e intérprete de língua de sinais Jessyka Maia de Souza. Jessyka, a primeira intérprete oficial de LoL esports do mundo, foi contratada pela Riot Games, editora do LoL — com 180 milhões de jogadores em todo o mundo e 14,5 milhões de fãs brasileiros sintonizados nas transmissões do CBLoL (Campeonato Brasileiro de League of Legends) em 2022 — para traduzir eventos de esports ao vivo para a língua de sinais Libras usada no Brasil, tornando-se a primeira coordenadora e intérprete de Libras da empresa.
“A acessibilidade na sociedade ainda é negligenciada e, quando se trata de jogos e entretenimento, é considerada um luxo, mas todos temos direito a isso”, diz Jessyka, de 28 anos, que atende pelo seu nome de jogo Suuhgetsu.
Legendas ocultas de alta qualidade são comuns em videogames, facilitando para pessoas surdas jogarem em casa e, no ano passado o Xbox lançou um canal dedicado na plataforma de streaming Twitch com interpretações da linguagem de sinais americana (American Sign Language). Mas à medida que a popularidade dos esports dispara e milhões de fãs acompanham competições de alto nível ao vivo em casa, as empresas de jogos estão constantemente procurando maneiras de melhorar a experiência dos fãs e tornar os esports mais inclusivos para todas as comunidades.
Embora ela mesma não seja surda, Maia de Souza tem uma compreensão profunda dos desafios enfrentados por muitas pessoas surdas ou com deficiência auditiva. Criada em Pernambuco, começou a aprender Libras ainda criança para se comunicar melhor com a então namorada do tio, que era deficiente auditiva, e a partir daí mergulhou nos estudos sobre surdez e acessibilidade.
Ela logo ficou atraída pelo assunto e decidiu dar um passo adiante, estudando Libras na universidade em paralelo com seu bacharelado em direito e especializações em direito penal e forense.
Uma gamer entusiasta que construiu seus próprios computadores, Jessyka Maia de Souza percebeu que havia uma necessidade premente de tornar os jogos mais inclusivos, então ela começou a transmitir os torneios de jogadores surdos e deficientes auditivos e a hospedar competições acessíveis ao vivo. Ela também começou a criar conteúdo em Libras no League of Legends. A Riot Games logo apareceu.
Assinar em Libras é apenas uma parte de seu trabalho. Para fornecer a interpretação que os jogadores desejam e precisam, Jessyka garante que aprenderá tudo o que puder sobre o jogo e os principais apresentadores, além de memes e piadas populares do LoL.
“Qualquer intérprete pode fazer sinais, mas trata-se de conhecer o assunto e ter experiência nele. Caso contrário, é como pedir a um ortopedista para examinar seus olhos – ambos são médicos, mas de especialidades diferentes”, diz.
Por meio de sua empresa homônima Suuhgetsu, sua missão agora é organizar campeonatos de jogos para pessoas com deficiência e treiná-los para trabalhar como "casters", comentaristas e apresentadores. Em novembro, ela foi reconhecida pela Riot Games e Mastercard Brasil no CBLoL Awards, evento que homenageia grandes atletas e figuras importantes do cenário dos esports no Brasil, como uma das quatro “Unknown Legends” (“Lendas Desconhecidas”) — membros da comunidade LoL que estão fazendo a diferença positiva dentro e fora do jogo, incentivando e fortalecendo a diversidade e a inclusão.
“Eles estão provando que campeão não é apenas aquele que tem muita habilidade no jogo, mas alguém que busca ampliar valores como empatia, união e respeito”, diz Sarah Buchwitz, Vice-Presidente de Marketing e Comunicação da Mastercard Brasil.
Jessyka Maia de Souza espera que outras empresas sigam o exemplo da Riot e comecem a tornar os esports mais acessíveis para pessoas com deficiência. “Mostrar que campeonatos menores – onde começam aqueles que querem se profissionalizar – que os deficientes auditivos estão em cena e querem deixar de ser espectadores e se tornarem jogadores também".